Sempre que acompanho palestras de figurões do jornalismo e ouço atentamente os conselhos que dão, geralmente ao final das apresentações, a estudantes e outros aspirantes à profissão sobre como proceder para atingir seus objetivos, fico com a pulga atrás da orelha. É sempre mais do mesmo.
Não que aquelas palavras motivacionais ou os lugares comuns que esses figurões costumam despejar nas atentas plateias, como “leia bastante”, “procure entender como a sociedade funciona em sua totalidade e em suas partes” ou “mantenha-se atento para as contradições e os conflitos na teia social e econômica, porque é daí que nascem as pautas”, não sejam úteis.
São muito úteis, sim.
Mas, como professor de jornalismo há quase uma década, entendo que faltam conselhos, digamos, mais práticos. Faltam aqueles toques mais triviais e nem por isso menos eficazes, de gente mais experiente e com vivência docente, a jovens que, muitas vezes, são involuntários portadores de sérios (mas não insolúveis) problemas decorrentes de má formação nos ensinos fundamental e médio.
Portanto, para que possam estar mais aptos a enfrentar um mercado cada vez mais restrito e restritivo, uma selva, por que não dizer?, que exige dos postulantes a adentrá-la o domínio de um ilimitado universo de conhecimentos gerais e específicos, técnicos e teóricos, lanço aqui singelas contribuições (vou atualizar, na medida em que me lembrar de outras):
REDAÇÃO:
Não escreva “mais” quando quer dizer “mas”. Preste atenção. Mais é soma, é acréscimo. Mas é advérbio e, geralmente, vem precedido de vírgula (NÃO, A VÍRGULA NÃO É MAIS FREQUENTE DEPOIS DO “MAS”).
Ex: ERRADO: “Você gosta de mim, MAIS não sabe disso”.
CERTO: Você gosta de mim, MAS não sabe disso”.
Sempre, sempre, sempre coloque vírgula depois daquele “SEGUNDO FULANO DE TAL, TAL COISA É ASSIM E ASSADO”. Isso vale para DE ACORDO COM FULANO,..., CONFORME SICRANO,...
Depois das aspas que encerram uma frase textual de algum entrevistado, USE A VÍRGULA ANTES DO CHAMADO VERBO DICENDI (disse, diz, afirmou, afirma, ressaltou, ressalta etc). Ex: “Eu acho que o Brasil está em um novo caminho”, disse fulano.
Quanto a essa questão do DISSE ou DIZ, veja: se a matéria é FRIA e/ou o aspecto temporal/cronológico não tem tanta relevância, pode usar DIZ/AFIRMA/RESSALTA ECT. Caso, ao contrário, seja importante tal aspecto, pode usar DISSE/RESSALTOU/AFIRMOU etc. Mas preste atenção: NÃO MISTURE OS DOIS TEMPOS VERBAIS (PASSADO E PRESENTE) ao usar esses verbos. Se começou com DIZ, mantenha os verbos pós-declaratórios no PRESENTE. Se começou com DISSE, mantenha os verbos no passado. Beleza?
Separe os períodos. Abuse dos pontos (sem ser telegráfico). Lembre-se: sempre que você fica tentado a iniciar uma nova construção frasal, com sujeito, verbo e predicado, após uma vírgula (equivocada), faça isso com um ponto. Simples!
Separar sujeito de verbo com vírgula é justificativa para fuzilamento do perpetrador.
Os apostos explicativos, aquelas informações/adendos sobre alguém ou alguma coisa, sempre vêm entre vírgulas. Uma regra bacana é pensar assim: essa informação aqui, sob essa coisa ou essa pessoa, poderia vir entre parênteses? Se sim, é só trocar os parênteses por vírgulas, uai! Ex: “Fulano de tal (que foi o campeão da maratona no ano passado) disse que não vai mais competir”; “Fulana (moradora do bairro Padre Eustáquio) não aprovou o novo viaduto do bairro” “Sicrano (de 25 anos) acha que o Brasil vai melhorar”. Viu? Se deu pra por entre parêntetes, taque as vírgulas.
A regra dos porquês. Olha, basta se lembrar do seguinte: você deve colocar mentalmente a palavra “razão” depois do que do porque, independentemente da frase. Se a palavra se encaixa (poderia ser usada sem alterar o sentido), então o por que é SEPARADO. Se ela não se encaixa, o porque É JUNTO. E o porquê com acento? Só quando é substantivo: EX: “Entenda os porquês da renúncia do candidato”; “Entenda por que o candidato renunciou”; “O candidato renunciou porque estava deprimido”. Mais uma coisinha: o acento no “quê” vale quando o quê está no fim da frase: “O candidato renunciou: Por quê?”
Quanto à nova ortografia: NÃO, O ACENTO CIRCUNFLEXO NÃO CAIU EM VERBOS COMO “ELES TÊM”, “ELES MANTÊM”, “ELES VÊM (do verbo VIR)”... O que caiu foi o circunflexo em vogais dobradas: VOO, ELES VEEM (do verbo VER)...
NÃO CONFIE NO CORRETOR ORTOGRÁFICO DO WORD. Aconselho até que você o desabilite. Tenha um dicionário instalado na sua máquina de trabalho e faça as checagens nele. O aulete serve: http://www.auletedigital.com.br/download.html
Visite este endereço: http://www.culturatura.com.br/gramatica/ortografia/erros.htm. São os CEM ERROS MAIS COMUNS DE NOSSO QUERIDO IDIOMA. IMPRIMA E COLOQUE À MÃO, PARA CONSULTA QUANDO FOR ESCREVER
Fonte não é amigo(a). Fonte é fonte. Se você fica amigo, pode se ver impedido, no seu íntimo, de perguntar à fonte algumas coisas ou de revelar coisas sobre ela.
Quando encontrar um assunto bom para desenvolver em forma de reportagem/matéria jornalística, faça um planejamento (mental ou no papel) para uma apuração equilibrada. Busque os lados mais relevantes para esclarecer a questão (que seja um acidente de trânsito ou a viagem do homem à Lua). Mesmo com opiniões coincidentes em várias pontas desse laço, tente puxar todas para garantir que ele seja desamarrado.
Para redigir, editar, enfim, produzir a reportagem, não importa o suporte de difusão (jornal impresso, revista, rádio, TV, Internet), faça antes também um planejamento. Qual a notação, o gancho, o punch (soco) mais relevante/importante sobre esse tema sobre o qual me debrucei, dentro do contexto em que ele, meus leitores e eu nos inserimos? Sim, porque é sobre isso, esse gancho, que vou construir minha história. Como esse assunto se desenrola e qual a melhor forma de contar todos os seus aspectos ao meu leitor?
Por enquanto é isso. Depois atualizo.